Fica comigo. Pediu ela.

Fica comigo. Pediu ela ao mesmo tempo que guardava aquele caderno que tanto estimava, que tanto lhe relembrava o quanto aquilo valia a pena. Não esquecera um único momento passado e vivido, não se esquecera da felicidade que sentira e que ainda sentia só por o poder ter na sua vida, por ele ter entrado nos seus monótonos dias. Era algo memorável, algo único.

Perdida em memórias e pensamentos, deparou-se o quanto os últimos dias tinham sido complicados, com brigas e discussões frequentes, com implicâncias e acusações feias. Os quilómetros de angústia e saudade influenciavam de grosso modo o bom humor dos dias longos e intermináveis, pois o tempo parecia não querer passar simplesmente. Por este tempo quieto e calado, percebia-se a exaltação, os ciúmes e a carência, que perturbavam os laços que os uniam. Mas é normal brigar de vez em quando certo? E mais extraordinário era a forma de como ambos resolviam as suas brigas e confusões, o modo como se entendiam e perdoavam possíveis sentimentos de inveja e melancolia, possíveis desenganos e palavras que ficavam por dizer. Apesar disso, era brilhante a sua relação, a sua amizade, a sua magia e nunca em nenhum outro mundo existirá um amor assim.

Preciso de ti. O seu suspiro foi forte e recostada naquele grande cadeirão, deu por si a viajar por momentos de conforto, de amizade, de carinho e de brincadeira. Momentos que nunca tivera com mais ninguém e que na sua certeza, nunca mais teria com quem quer que fosse, a não ser com ele. Eram momentos que superavam todos, mas todos os momentos menos bons ou maus, funcionavam como borracha, apagando e eliminando aqueles sentimentos que se apoderam de nós nos instantes de solidão, de falta e vazio.

Palavras desagradáveis haviam sido ditas, lágrimas de sofrimento haviam caído dos seus rostos tristes. É contigo que eu sou feliz, eu amo-te. Dissera-lhe ela, após horas de casmurrice e teimosia, após acusações e julgamentos, que na realidade não tinham essa intenção. Tratavam-se apenas de desabafos, de desejos que falavam agora mais alto, que aproveitavam o momento de aflição e que assumiam o controlo da discussão acesa. Está tudo bem entre nós? Perguntara-lhe ele, envolvendo-a nos seus braços, apertando-a contra si. Sim, entre nós ficará sempre tudo bem. Aconteça o que acontecer. – Respondera-lhe ela.

Cada um tinha que perceber que, embora fossem o reflexo um do outro, eram pessoas muito diferentes, com perspetivas, opiniões e com necessidades distintas. No entanto, partilhavam os meus sonhos e planos, uma vida a dois diga-se de passagem.

E agora falando para ti, tu que tens esta rapariga nos teus braços, que a conquistaste com esse teu sorriso e olhar único, entende que ela sempre te escolherá a ti ao invés dos outros; és tu que estás acima de todos. Sabes que ela também dá valor aos amigos, que gosta de estar com eles, também precisa deles. Mas lá no fundo, é por ti que ela vive, nunca questiones isso. Contudo, é normal que, por vezes, sintas dúvidas. É absolutamente normal, pois é o receio de a perder ou o receio de que o seu sentimento por ti possa estar a diminuir. Mas mete na tua cabeça que não passam apenas de receios, porque no fim, ela estará lá contigo, para ti e por ti. Ama-te acima de tudo.

Fica comigo. Irá ela pedir-te novamente.

(sc)